É extremamente comum falar ou ouvir falarem às crianças o clichê “o que
os outros vão pensar?” no intuito de inibir ou estimular algum comportamento.
O que os outros vão pensar é algo que depende
somente dos outros. Cada um vê o mundo segundo suas expêriencias, cultura,
religião, recepção e percepção do mundo, humor no momento, hormônios, química
cerebral, genética, entre outros tantos fatores individuais. Mesmo quando
estamos tentando convencer alguém a pensar ou não algo, não conseguimos
necessariamente, imagina sem sequer conhecer o outro.
Coloquemos uma situação de uma criança gritando “eu quero” em um
shopping. O que os outros vão pensar? Possibilidades:
1 – Nada, a pessoa está distraída e nem nota o que ocorreu a sua volta;
2 – Nada, a pessoa nota que há uma criança gritando, porém não se
importa, pois não parece ser nada grave (o mais comum);
3 – Pode pensar: “Olha, de novo uma criança fazendo
birra.”;
4 – “Será que posso ou devo ajudar?”;
5 – “Queria ter uma arma...”;
6 – “A mãe deveria ceder logo.”;
7 – “A mãe não deve ceder, está certa.”;
8 – “O certo é ignorar. Um dia aprende.”;
9 - “Um animalzinho de estimação a distrairia evitando o escândalo.”;
10 – “Elefantes não voam.”;
11 (...) - Qualquer coisa! As pessoas pensam de tudo... O que importa? Que controle temos sobre o que os outros
vão pensar?
Por que achamos que temos que tê-lo? Por que achamos que elas vão pensar
o que nós acreditamos que pensaríamos?
Falar “o que os outros vão pensar” passa à criança
a ideia de que ela tem responsabilidade sobre o que os outros vão realmente
pensar. Um pouco pesado, não? E embutido nisso está o pior: que ela ter que
atender às expectativas dos outros.
Há um monte de adultos tentando se livrar da crença
dessa necessidade (em terapia, com livros de autoajuda, com tratamento para paranoia
nos casos mais graves...).
Porém, não usar a tal frase, não
significa educar sem pensar no outro. O outro é muito importante, pois merece
respeito e têm direitos, por isso deve ser pensado e abordado. Especialmente
usando a empatia: “não fazer ao outro o que não gostaria que fosse feito a você
no lugar dele”.
Por exemplo: um pré-adolescente está socando a parede do quarto de
madrugada porque brigou com a namorada. A abordagem dos pais deve ser a
seguinte: “você gostaria de ser acordado por seu vizinho dando socos na parede
porque ele brigou com a namorada? Acha isso justo?”... “Imagina se todos os
vizinhos de um prédio derem socos nas paredes sempre que estiverem nervosos?
Ninguém mais teria uma noite sequer sem acordar com o tal barulho, isso seria
certo?”. E caso conversar não seja suficiente, deve-se usar vivências (nesse
caso, salientar momentos onde o pré-adolescente foi acordado por alguém
exaltado ou até mesmo socar a parede de forma a acordá-lo alegando ter brigado
com um colega e em momento oportuno discutir o ocorrido).
Empatia é a base para a discussão sobre normas e regras.
Mas quanto à frase, inclusive religiosa, que sugere
fazer aos outros o que gostaria que fosse feito a você, devemos lembrar que ela
se refere apenas à tentativa de fazermos o certo, o melhor. Não significa que
acertaremos ou que faremos o que o outro queria; mas, sim, que existe a intenção
de respeito.
Falar “o que os outros vão pensar?”, assim como ameaçar ou bater é muita
falta de capacidade intelectual ou de vontade de cumprir a obrigação de educar
corretamente.
Por fim, o que os outros pensam, desde que não machuquem ninguém por
conta disso, é um grande problema deles e somente deles.
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