Desenvolvimento Humano Cognitivo

Até a fase adulta (maturidade), o indivíduo passa por diversas fases de desenvolvimento físico, mental e emocional, apresentando diferentes necessidades e comportamentos em cada uma delas. É extremamente importante que pais e educadores conheçam um pouco sobre tais fases, visto que este entendimento leva a compreensão do ser humano e de suas necessidades (portanto, de como lidar com elas corretamente).

A criança não é um adulto em miniatura, mas sim um ser vivo complexo que apresenta características próprias de sua idade.

Assim como o corpo de um indivíduo sofre modificações visíveis que culminam na maturidade, geralmente aos 21 anos, o cérebro desse indivíduo também amadurece com o tempo. A coordenação motora, por exemplo, é aperfeiçoada com o treino: o bebê não nasce sabendo andar, mas aprende e aperfeiçoa tal ação durante os próximos períodos de sua vida; deixar coisas caírem e quebrarem é natural de uma criança. Ela não deve ser castigada por não ter uma ótima coordenação motora ou equilíbrio físico. Essas características serão desenvolvidas com o tempo. Explorar o ambiente e eventualmente quebrar algo não é uma atitude feita para prejudicar os pais, mas sim, um instinto natural que confere a melhora do desenvolvimento físico e intelectual das crianças.


Jean Piaget explica o desenvolvimento cognitivo (intelectual) separando-o em quatro fases (ou períodos) segundo o que de melhor um indivíduo consegue realizar em cada faixa etária. Para passar por cada uma dessas fazes adequadamente, são necessários cuidados e estímulos ambientais específicos comentados a seguir.



- 1º período do desenvolvimento cognitivo: sensório-motor (de 0 a 2 anos)

Nesse 1º período, a criança apreende todo o universo que a cerca através da percepção (sentidos, especialmente o tato da boca) e dos movimentos. O domínio da descoberta aumenta com a capacidade de sentar e de engatinhar. Gradativamente, até o final dessa fase, a criança passa a perceber que ela e o mundo exterior não são unos e que um objeto continua existindo mesmo quando não está em seu campo de visão. Ao final dessa fase, a criança passa a demonstrar preferência por pessoas e brinquedos e compreensão de algumas palavras, apesar de sua fala ainda limitar-se à tentativa de repetição do que ouve.

Como cuidar bem nesse período: permitir o descobrir do mundo deixando a criança livre em ambiente seguro e com grande quantidade de estímulos (brinquedos próprios para essa fase); impor limites claros relacionados à segurança física (por meio de barreiras físicas); respeitar horários; buscar proporcionar prazer em todas as atividades; manter companhia adulta de confiança por perto sempre que possível; alimentar com grande freqüência com leite materno e alimentos indicados por um pediatra; manter uma rotina: mesas companhias, mesmos ambientes, mesmo berço, mesmo lar. 


2º período do desenvolvimento cognitivo: pré-operatório (de 2 a 7 anos)

Nesse 2º período, ocorre o aparecimento da linguagem, e, com esta, a aceleração do desenvolvimento do pensamento. No início desse período, a percepção do mundo real é filtrada pelo universo simbólico da criança: pouco objetivo e baseado em seus desejos e fantasias. Gradativamente, o mundo real passa a ser observado e utilizado pela criança para explicar seu mundo simbólico e suas leis morais até que passa a ser percebido como um mundo com causas e efeitos que ela deseja compreender – “fase dos porquês”.

Por ainda estar bastante centrada em si mesma, ocorre uma primazia do próprio ponto de vista, o que torna o trabalho em grupo bastante difícil. Com o passar do tempo, o ponto de vista do outro passa a ser considerado e ter certo valor, desde que faça sentido (seja bem argumentado).

No aspecto afetivo, surgem os sentimentos interindividuais, tal como o respeito nutrido pelos que a criança julga superiores a ela (pais e professores) como uma mistura de amor e de temor. A moral é construída e baseada, a princípio, na obediência (no que os adultos consideram certo ou errado) e, gradativamente (no final desse período e na decorrência do próximo), em uma escala de valores da própria criança, que ela passa a usar para avaliar suas próprias ações.

Com o domínio ampliado do mundo, o interesse pelas diferentes atividades e objetos se multiplica. A coordenação motora melhora bastante tornando possíveis movimentos delicados como a escrita.

Como cuidar bem nesse período: apresentar limites bastante claros (não ser indireto nem contraditório); sempre cumprir a palavra falada; não fazer ameaças violentas e nem que não serão posteriormente cumpridas; não mentir (mas pode-se dizer que você não quer falar sobre algo porque é pessoal); expor argumentos baseados na realidade e em causas e conseqüências; responder aos porquês de maneira lógica e concreta (baseada no que a criança pode ver e não em hipóteses ou ideias abstratas); preferir responder “não sei” a mentir; ser paciente; dialogar como tentativa de resolução de problemas e de conflitos; evitar exagerar nos “nãos”; proporcionar atividades prazerosas como passeios a parques; respeitar posicionamentos que não consegue invalidar pela argumentação coerente.


3º período do desenvolvimento cognitivo: operações concretas (de 9 a 11 ou 12 anos)

Nesse período, inicia-se a capacidade da criança estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vistas diferentes e de cooperar com os outros. Trabalhos em grupos tornam-se possíveis sem a perda da autonomia pessoal. A capacidade de reflexão aperfeiçoa-se, mas sempre baseada em situações concretas e lógicas: para ocorrer a compreensão, são necessárias comparações do que é aprendido com o que já é conhecido ou está sendo fisicamente visualizado.

A criança passa a estabelecer corretamente relações de causa e efeito; sequenciar idéias ou eventos; formar o conceito de número.

A autonomia em relação ao adulto aumenta e a criança passa a ter mais organizados e importantes seus próprios valores morais. O grupo de colegas adquire a função de satisfazer, progressivamente, as necessidades de segurança e afeto.

Observação: acredito que seja nesse período em que os abusos sexuais por adolescentes e por adultos são mais freqüentes devido ao início do desenvolvimento das características sexuais secundárias (idade preferida pelos pedófilos) e pela necessidade da criança de aceitação e afeto fora de casa, o que a torna alvo extremamente fácil e possivelmente não denunciante.

Como cuidar bem nesse período: ter os cuidados listados para a fase anterior; atentar ao desenvolvimento dos valores morais dialogando sobre eles ou mostrando histórias e filmes contra o preconceito, contra guerras e semelhantes; ensinar a ser uma boa pessoa, acompanhar o desenvolvimento escolar fornecendo elogios quando merecido - valorizar o esforço quando houver; dialogar respeitosamente sobre o dia a dia da criança visando a detectar seus conflitos (e possíveis abusos sexuais e/ou violentos pelos quais esteja passando); saber como evitar o desaparecimento de crianças, conhecer sobre como identificar e evitar abusos; fornecer freqüentemente dicas de segurança (com relação à internet também); estimular a negociação e a troca; mostrar que você também tem frustrações, vontades e sentimentos; estimular a empatia; dialogar coerentemente sobre álcool e drogas, gravidez e contracepção.


4º período do desenvolvimento cognitivo: operações formais (de 11 ou 12 anos em diante)

Neste período ocorre, finalmente, a passagem do pensamento concreto para o pensamento formal, abstrato. Para a compreensão ser alcançada não é mais necessária a manipulação concreta de objetos e de conhecimentos prévios determinados. Lidar com conceitos como liberdade e justiça torna-se mais complexo. A capacidade de reflexão espontânea é apurada, portanto, surge a formulação de conclusões a partir de meras hipóteses.

                        Obs - Em algumas pessoas essa fase não se inicia ou não se concretiza com sucesso. Elas podem nunca ter pensamento abstrato bem desenvolvido. 

No início dessa fase, pode haver um certo isolamento e questionamento do que foi aprendido, que leva a individualização de conceitos e de idéias.

O adolescente concebe o mundo como passível de transformação e reformulação, gradativamente compreende a importância da reflexão para sua ação real e as conseqüências de suas atitudes.

No aspecto afetivo, o adolescente vive constantes conflitos quase que até a maturidade. Deseja libertar-se do adulto, mas precisa dele. Deseja ser aceito por outros adolescentes e por adultos e sofre grande influência moral dos grupos que o cercam (tende a aceitá-los, compartilhar o que vê ou negá-los e demonstrar clara oposição). A instabilidade se estende aos interesses de forma geral.

Como cuidar bem nesse período: respeitar; mostrar posicionamento amigo; dialogar pacientemente (já utilizando pensamentos e hipóteses abstratas); compreender que os sentimentos do adolescente não são menos intensos ou menos verdadeiros por serem conflituosos ou porque irão passar (não subestimá-los); respeitar a necessidade de liberdade e experimentação com responsabilidade; aconselhar sem obrigar (pois obrigar pode gerar posicionamentos contrários); basear conselhos em argumentação coerente, exemplos e fatos comprovados; não exagerar fatos (não mentir); não se mostrar infalível ou onisciente; esperar por erros e tentar compreendê-los (ter empatia); apresentar limites claros e coerentes com esta fase e sempre cumprir a própria palavra; ser firme e assertivo; continuar educando sobre álcool, drogas, gravidez e contracepção. 


Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém, o início e término de cada uma delas dependem das características biológicas e de fatores educacionais e sociais. Assim, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, não uma norma rígida. Na dúvida, as ações tomadas (para cuidar bem) devem ser baseadas no respeito mutuo e no diálogo (em que todas as pessoas envolvidas falam e também ouvem), devem envolver muita paciência e compreensão e nunca, jamais, envolver violência física e humilhação.


Lembrete: autoconhecer-se e saber lidar com os próprios sentimentos facilitam o diálogo consciente e a relação equilibrada entre pais e filhos.


Fonte principal: Uma Introdução ao Estudo da Psicologia, de Ana Mercedes Bahia Book, 13ª edição, Editora Saraiva.


Leituras recomendadas 


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Livros:


 



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- O Começo da Vida;

- Secret Life o Babys (A Vida Secreta dos Bebês);

- The Kids Menu (Alimentação para crianças);

- The Mask You Line in (A Mascara Que Você Vive): fala sobre a hiper-masculinidade tão estimulada pela sociedade e tão prejudicial também aos meninos;

- Embrace (Abrace): faça sobre os padrões de beleza e os problemas relacionados a eles.




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