Pessoas Destrutivas e Nossa Educação

É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade
- Emmanuel Kant


Nessa semana, uma criança do condomínio onde moro arrancou uma florzinha roxa do jardim e a
levou para sua mãe: “Olha que linda”. A mãe agradeceu o presente e continuou olhando seu celular. Um pouco depois, essa mesma criança gritou para mim: “Olha o bicho. Você tem medo?”. Havia um inseto grande no chão próximo a mim... Eu disse que eu não tinha medo. Então ela correu e pisou nele dizendo “eu tenho”. Eu comentei: “É você tem medo dele, mas e ele não te fez nada, você que o matou. Acho que quem deveria ter medo é ele, então, não é?”. Ela ficou pensando e eu continuei andando.

Não quis a repreender pela flor, já a deixei pensando em algo. Informação demais poderia não surtir efeito ou parecer bronca e gerar raiva ou vergonha, o que tomaria o lugar da reflexão.

Gostaria que a mãe tivesse dito que ela poderia lhe mostrar a flor bonita sem arrancá-la, mas indo até ela, pois o que gostamos ou queremos não precisa ser nosso, pode apenas continuar “sendo”.

A mãe nada educou... Aliás, pode-se dizer que só seu corpo estava lá, não ela...

Nossa educação tem tido menos e menos valores. Não costumamos dialogar, mas apenas jogar e rebater informações:
Marido – Hoje fiz um relatório muito complicado. Estou com dor de cabeça.
Esposa, em resposta – Eu dei aula para quinta série... Também estou.

É isso que as crianças presenciam. Na escola tradicional e nas aulas meramente expositivas (dão muito menos trabalho ao professor), apenas recebemos informações: quantidade, não qualidade. Em casa, normalmente ninguém tem tempo, nem quer ter trabalho: “toma esse celular e fica quieto”. A fase dos porquês parece estar se perdendo. Os professores a acham chata, os adultos não têm paciência. As pessoas não são levadas mais a raciocinar. Nos ambientes de trabalho então... Aí a coisa é realmente feia. Raramente alguém questiona o motivo de uma ordem, sob pena de ir para a rua, e, quando o faz, leva patadas ou encontra mandantes que nem sabem os porquês do que pedem. Saber o motivo de algo nos ajuda a compreendê-lo e fazê-lo diferente, inovar, aperfeiçoar, fazer bem feito ao menos.

Faculdades ensinam porquês, cursos técnicos não. Mas: cursos técnicos nos preparam para o mercado de trabalho; faculdades... Nem sempre... Nas entrevistas, selecionam quem sabe saber o trabalho e cumprir ordens: “Precisa-se de experiência”...

A maioria das pessoas detesta quem pergunta. Na escola, aquele que levanta a mão é julgado como quem “quer se exibir” ou é o chato... Mas só depois da sexta série. Antes disso, as crianças ainda não estão tão desincentivadas a descobrir, aprender de verdade, compreender, raciocinar. Depois disso, elas aprendem as regras... Aceitam que nós as destruímos. Elas não nascem assim.

Voltando à natureza, ela não é nossa, nós é que fazemos parte dela. Mas levamos para “nossa” casa tudo o que queremos possuir: um enfeite feito com estrelas-do-mar, rosas para morrer enquanto as admiramos, um pássaro na gaiola – tal como as rosas, mas vivendo por mais tempo.

Queremos possuir pessoas também. Para isso, mostramos o quanto “temos”: a casa gigante, que faz com que todo ser vivo que antes lá estava (quando o ambiente era natural) deixe de estar (ela precisa mesmo ser tão grande?); O nosso filho mimado que protegemos em detrimento dos que ele faz vítima de bullying (ele é nosso, vale muito mais que os outros, né...); O caro caríssimo, com seguro e adornos tão caros quanto (em vez de doar esse dinheiro que nos sobra a quem realmente precisa ou investi-lo em reservas ambientais e ONGs de proteção animal) – ele precisa mesmo ser tão potente?; As pessoas que machucamos com palavras - de propósito ou por vingança da maldade que julgamos que elas têm (mas só vemos nos outros o que há em nós – Precisamos mesmo machucar todo mundo?); A piscina só nossa; o jardim só nosso; as pessoas em que pisamos ou para as quais nos exibimos por termos "mais" que elas (Como somos poderosos, precisamos salientar as diferenças, esnobar, ostentar...); A sujeira na praia da tampa de champanhe que voou sabe-se lá para onde (minha comemoração precisa mesmo deixar balões, fogos, estrondos, som alto, papeis de presente, confetes: restos? Não posso comemorar sem prejudicar os outros e o meio?); o corpo do animal morto de comemos só a parte “nobre” (desperdiçar é coisa de quem pode, preciso tanto provar que posso?); A lagosta, jogada viva na água fervente apenas para ficar mais macia... O churrasco de que nos empanturramos, mesmo sem fome, para depois o vomitarmos com a cerveja (Ser vivo? Não era meu familiar mesmo, nem é da minha espécie...); A funcionária, prostituta, faxineira, etc, que consumimos sem pensar que aquela pessoa tem alma (estamos pagando... E quanto mais caro for, mais precisamos aproveitar - usar - destruir); O peixe que pescamos, mutilamos e soltamos porque nos é divertido; os dois copinhos descartáveis diferentes em que pegamos café a cada almoço e vão demorar mais de 700 anos para se decompor – e dois porque um pode queimar a mão... Coisas grandes... Coisas “pequenas”... Todos os dias. Toda a vida!

Você pensa nas suas atitudes? Questiona quais as consequências delas e se são realmente necessárias? Você se lembra que é exemplo aos que convivem contigo?

Aquela criança no condomínio pensou... Pense, por favor. Mude. O mundo não vai mudar sem você. Não vamos ter um planeta melhor se faltar você. Somos da mesma espécie, há uma mente coletiva (Carl G Jung introduziu essa ideia e a física quântica tem a comprovado a cada dia), há um mundo compartilhado, mais que globalizado. A natureza é interligada: não posso jogar uma bomba em Hiroxima sem sentir seus efeitos do outro lado do oceano. Somos interligados.


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